Rachel Whiteread (Londres, 1963)
A escultora inglesa explora a ideia da negatividade dos espaços. Com recurso ao processo de moldagem em gesso representa a memória física quer de objectos como de espaços e materializa aquilo que não é visível, tornando vivo o seu “vazio”. Rachel Whiteread em Untitled (Paperbacks), Untitled (Library) ou Untitled (Colours), tirando o molde aos objectos estante e livro, torna tangível o imaterial. Simultaneamente, imprime às suas peças uma relação com o corpo humano: a dimensão das estantes corresponde à escala real, reflectindo funções e evocando, nalguns casos, a intimidade que esse equipamento nos proporciona.
Untitled (Paperbacks), 1997 - Rachel Whiteread (Londres, 1963)
Gesso e aço. (Dimensão: 450 x 480 x 632 cm)
Untitled (Paperbacks) é o molde negativo do interior da sala de uma biblioteca: uma sala cheia de marcas espectrais de livros cujos conteúdos e títulos parecem ter-se perdido. O molde em gesso é a manifestação visível da sala – os livros unidos por cores, a dimensão das lombadas e mesmo a textura das suas páginas permanecem “legíveis”. A escultura de Whiteread cria assim uma tensão entre o assombroso e o poético, o monumental e o frágil, o efémero e o eterno. [Fonte: Texto da exposição - Out of Time: A Contemporary View, August 30, 2006–April 9, 2007]
Untitled (Library), 1999 - Rachel Whiteread (Londres, 1963)
Gesso, Poliestireno, fibra e aço. (Dimensão: 112 1/2 x 210 5/8 x 96 in.)
Foto: Hirshhorn Museum and Sculpture Garden
Untitled (Colours), 2002 - Rachel Whiteread (Reino Unido, 1963)
Gesso, Poliestireno e aço. (Dimensão: 113.00 x 90.00 x 26.00 cm)
Foto: National Galleries of Scotland
Em Untitled (Library) e (Colours) são visíveis tanto a cor como as páginas dos livros. As cores neste caso resultam das cores das capas absorvidas pelo molde em gesso durante o processo de secagem. Por sua vez, as páginas correspondem às linhas delineadas nas prateleiras da escultura.
Nestas três obras, Whiteread associa a inexistência material de livros para ler, ou este vácuo assombrado, ao espaço preenchido pelo conhecimento ou às ideias e memórias contidas nos livros, o "não-lugar" do imaterial.
Holocaust Monument (2000) Judenplatz, Vienna - Rachel Whiteread (Londres, 1963)
Foto: Wikipedia e Ramone
Ao contrário do que sucede em Untitled (Paperbacks), onde existe uma biblioteca na qual se pode entrar, no monumento Holocaust Memorial inaugurado em 2000, na praça Judenplatz em Viena de Áustria, o processo de representação do espaço “biblioteca” é invertido. Aqui, o molde do espaço interior de uma biblioteca é delineado, positivamente, através das estantes e respectivas marcas impressas pelos livros no exterior de um bloco fechado. Uma das paredes apresenta o negativo da porta principal. No monumento às vitimas do holocausto, Whiteread simboliza a vida e cultura de mais de 65.000 judeus austríacos (tradicionalmente identificados como “Pessoas dos Livros”) mortos durante a perseguição Nazi.
Em síntese, nesta série de instalações, a escultora pretende realçar e demonstrar que, tal como as obras de arte invocam a história de objectos e pessoas, também os livros assumem esse papel de registo e memória da história da humanidade.