sábado, novembro 11, 2006

youth

Debater o que interessa aos jovens: olhos nos olhos

No Congresso de Oeiras sobre a adolescência houve oportunidade de assistir a algumas intervenções muito enriquecedoras, como a de Eduardo Sá (Psicólogo, Psicanalista, Prof. Universitário – FPCEUC e ISPA), especialista em acção familiar, que considerou algo desadequada a frase Debater o que interessa aos jovens, olhos nos olhos. Esta expressão vem tocar precisamente não só no ponto fraco de problemáticas relacionadas com a adolescência mas também com aquilo que vem sendo característica da sociedade actual, a crescente incapacidade de manter diálogos olhos nos olhos, seja com quem for. Em relação ao modo como se gerem os afectos em família, em particular entre pais e adolescentes, Eduardo Sá deixou algumas dicas:

  • Dar colo: independentemente da idade, o colo não desconcerta mas, pelo contrário, concerta
  • Reabilitar o silêncio na família: O ritmo de vida actual cada vez mais dá menos lugar ao silêncio, deve ser preservado um espaço de silêncio entre a família
  • Brincar: não é uma actividade de fim de semana, há que manter sempre presente o bom humor, e ai dos adultos que deixam de rir...
  • Imaginar: Os pais estão autorizados a soltar a imaginação como forma de poderem colocar-se na posição dos filhos e, assim, reflectir um pouco melhor sobre aquilo que pode estar a afectar as relações
  • Exclusividade: Todos os filhos gostam de ser filhos únicos quanto mais não seja por pouco tempo, gostam de sentir que são o centro das atenções ou numa conversa do seu agrado ou na descrição de um acontecimento, nem que seja só por uns momentos...

Dicas simples que apoiam e contribuem para reforçar o olhos nos olhos e para apurar a sensibilidade ...

domingo, outubro 29, 2006

Ontem não te vi em Babilónia

25 de Outubro à noite


Lobo Antunes numa noite repleta de espontaneidades, revela o lado humano e solto do escritor consagrado. A conversa fluiu com muito humor, entre histórias de vida e de vidas, memórias e recordações de infância e personagens rocambulescas... Das várias afirmações, destaco aquela em que Lobo Antunes se referiu ao acto de escrever e aos requisitos necessários para se ser escritor: “solidão, orgulho e paciência”. Solidão, por exigir bastante isolamento (imprescindível à concentração). Orgulho, por implicar elevada força de vontade e persistência. Paciência, por envolver muitas privações, sempre.

Quando estou muitas horas a sentir o tempo que não sei para onde vai no relógio eléctrico, sei que passa por mim num zumbidinho leve, começo a distinguir coisas no escuro, primeiro os móveis que deixaram de ser móveis e perderam o nome e depois o tecto, as paredes, o quadrado mais claro da janela e o rectângulo mais claro da porta esses sim ainda tecto e paredes e janela e porta e eu todavia perdendo-os também e a esquecer o que são, parece que a alma me sai num fuminho e tenho medo que não regresse mais, que ficando sem alma fique sem a minha vida inteira e continue a respirar como respiram as cortinas e as árvores que por mais que nos falem não as podemos ouvir, não nos preocupamos no caso por exemplo de se assustarem, sofrerem, não fazem parte de nós, andam por aí e acabou-se, quando estou muitas horas acordada a minha cara principia a tornar-se da mesma matéria que as tais coisas do escuro e deixa de ser cara, os braços deixam de ser braços consoante os móveis deixaram de ser móveis e perderam o nome

(o que chamar à minha cara, aos meus braços?)

ANTUNES, António Lobo - Ontem não te vi em Babilónia, 2006
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