domingo, julho 02, 2006

Eye Clock - George Nelson, 1957

Todos nós temos necessidade de ser olhados. Podíamos ser divididos em quatro categorias consoante o tipo de olhar sob o qual desejamos viver.

A primeira procura o olhar de um número infinito de olhos anónimos ou, por outras palavras, o olhar do público. É o caso do cantor alemão e da estrela americana, como é também o caso do jornalista de queixo de rabeca. (…)

Na segunda categoria, incluem-se aqueles que não podem viver sem o olhar de uma multidão de olhos familiares. São os incansáveis organizadores de jantares e de cocktails. São mais felizes que os da primeira categoria porque, quando estes perdem o público, imaginam que as luzes se apagaram para sempre na sala da sua vida. É o que, mais dia menos dia, lhes acontece a todos. Os desta segunda categoria, estes sim, acabam sempre por conseguir arranjar os olhares de que precisam. (...)

Vem em seguida a terceira categoria, a categoria daqueles que precisam de estar sempre sob a olhar do ser amado. A sua condição é tão perigosa como a das pessoas do primeiro grupo. Se os olhos do ser amado se fecham, a sala fica mergulhada na escuridão. (...)

Finalmente, há uma categoria, bem mais rara, que são aqueles que vivem sob os olhares imaginários de seres ausentes. São os sonhadores. (...)


KUNDERA, Milan – A Insustentável Leveza do Ser

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